Ministério Público intervém contra número insuficiente de funcionários da saúde em Belo Horizonte

terça-feira, 31 de julho de 2012 14:05 Postado por Roberto Sampaio

Ao longo de 2011, ocorreram várias manifestações dos servidores municipais da saúde em Belo Horizonte, e outras paralisações estão previstas para 2012. Os servidores reivindicam uma série de medidas de valorização dos servidores públicos, como a revisão do plano de carreira, a adequação da carga horária e da remuneração. A realização de concurso público para substituir o crescente número de terceirizados e, principalmente, contratados é também uma demanda do Sindicato dos Servidores Municipais.

Em agosto do ano passado, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura de Belo Horizonte, obrigando a realização de concurso público para substituir os trabalhadores contratados e terceirizados por servidores públicos efetivos até o dia 31 de dezembro de 2012. A necessidade de aumento do quadro de servidores públicos municipais é monitorada pelo Ministério Público desde 2003, no entanto, a situação agravou-se durante a atual administração municipal.

O prefeito Marcio Lacerda tem utilizado os contratos administrativos indiscriminadamente na administração do município, o que é uma péssima escolha, pois abre margem para a prática de corrupção, bem como a contratação de profissionais não capacitados.

Durante última gestão de Fernando Pimentel (PT), o quadro de funcionários do Sistema Municipal de Saúde (SMSA) aumentou 13,6%, passando de 14.886 funcionários em dezembro de 2004, para 16.908 no final de seu mandato em 2008. Esses 16.908 funcionários estavam divididos em 77,6% de servidores efetivos (53% de estatutários, 17,6% de celetistas, e 7,0% de servidores federais e estaduais municipalizados), 14,3% de terceirizados e 7,7% de funcionários vinculados por contratos administrativos.

A política municipal de saúde de Pimentel era orientada para a substituição gradual dos terceirizados, dos contratos administrativos e dos celetistas por servidores públicos estatutários. Em 2004, os servidores estatutários municipais eram 48,6% do total. No final da gestão petista, esse percentual já atingia 53%, o que demonstra a política bem sucedida de melhoramento da prestação de serviços municipais de saúde em Belo Horizonte.



fonte: Tabela 5 da página 38 do Relatório de Gestão de 2008 da Secretaria Municipal de Saúde

A situação inverteu-se a partir de 2009. O atual prefeito Márcio Lacerda, candidato esse ano à reeleição, não obstante o crescimento de 16,3% do quadro de funcionários do SMSA, teve o crescimento sustentado pelo aumento dos contratos administrativos. Estes, que representavam 7,7% do total em 2008, passaram para 13,8% em 2011.



fonte: Quadro 2 da página 19 do Relatório de Gestão de 2011

Os contratos administrativos, de características emergenciais, são prejudiciais para a prestação do serviço público. Esses contratos, por serem transitórios e muitas vezes com menor carga horária que a exigida dos servidores efetivos, reduzem a qualidade da prestação de serviço à população e resultam na demora de atendimento à população, no agendamento de cirurgias, e em torturantes filas nos postos de saúde e nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). Some-se a isso, a utilização frequente, no Brasil, de contratos administrativos para desvio de verbas públicas, para o favorecimento de pessoas e de grupos econômicos.

O concurso público e a efetivação dos servidores são um importante instrumento para enfrentar a corrupção, como destacou o promotor de justiça Eduardo Nepomuceno: O MPMG identificou a necessidade de realização de concursos públicos e a indispensável nomeação dos candidatos aprovados como forma de combate à corrupção no serviço público. (...) Vale registrar que muitos órgão públicos e Poderes Constituídos (...) realizam e vêm realizando concursos públicos como forma de dar validade aos princípios da democracia, republicano e da igualdade de acesso.”.

A atual política municipal de saúde é preocupante. Durante a gestão de Marcio Lacerda, a abertura de concursos públicos e de vagas para servidores estatutários diminuiu. Para encobrir a redução proporcional dos cargos efetivos, a Secretaria Municipal de Saúde passou a contabilizar, em seu Relatório Anual de Gestão, os servidores estatutários e celetistas em uma única categoria. Contabilizados em conjunto, essas categorias representam 70,9% do total dos funcionários do SMSA, percentual bem próximo ao da gestão anterior, quando esse percentual era de 70,6%, o que demonstra que a expansão do SMSA foi sustentada, principalmente, pelos contratos administrativos.

Não é sem razão que a Saúde em Belo Horizonte aparece como a principal preocupação da população belorizontina nessas eleições de 2012. Nos últimos 4 anos, o prefeito Marcio Lacerda tem brindado a população belorizontina com a falta de infraestrutura dos postos de saúde e das UPAs, com desvalorização dos servidores públicos, e, principalmente, com os contratos administrativos emergenciais que, além de reduzir a qualidade da prestação do serviço municipal de saúde, são um conhecido instrumento de corrupção, de desvio de dinheiro público, e de concessão de vantagens clientelistas e imorais.

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